Quando jovens, os periquitos são muito briguentos.
Enfrentam uns aos outros por qualquer coisa.
Por uma semente. Por um canto na árvore. Por um espaço no galho.
E quando vão para briga, eles botam o bracinho para trás, abrem a boca e partem para cima do seu oponente buscando sempre desferir uma bicada. E a bicada de alguns deles, dói bastante. Já fui vítima da ira periquiticia.
Entre a turma que costumamos alimentar em nossa varanda, existe um em especial, frequentador rotineiro do espaço, mas novo no pedaço.
Esse periquito, que na ocasião que apareceu devia ter no máximo um ano de vida, era metido a valentão e costumavamos, e até hoje chamamos, de namorado, pois ele era, e ainda é o companheiro de uma de nossas periquitinhas predileta e uma das mais antigas frequentadoras da casa.
Certa vez, eu e minha companheira Fernanda tivemos de viajar e ficamos por uns quatro dias fora, e consequentemente, não distribuímos refeições gratuitas para os periquitos da redondeza por uns dias, até porque a viagem foi de ultima hora.
Quando voltamos de viagem e abrimos a porta de nossa varanda, os amigos de pena vieram imediatamente em nossa direção.
Primeiro os cumprimentos habituais e brincadeiras, depois, os pedidos por sementes.
O valentão do namorado, parou diante da Fernanda, e quando viu as sementes de girassol, ele chorou, chorou e ficou assim por um longo tempo. Comendo e chorando parado diante de nós. Parecia emocionado.
Foi ai que descobri que os brutos também choram.