Ultima atualização: Dia 12/12/2024
"As coisas pequenas são realmente as grandes coisas da vida."
corta árvores no bairro
da Água Verde
Por Marcelo Miguel
Nos últimos meses temos assistido com certa constância e frequência os noticiários da TV dando ênfase as inúmeras catástrofes climáticas em diversas regiões do planeta. Chuvas intensas, secas profundas, inundações, desmoronamentos, ventos e tornados acima do normal e por vezes fora de época.
Muitas pessoas se assustam com esse novo cenário, mas infelizmente, não podemos dizer que estamos sendo pegos de surpresa.
Em 1992 tivemos a realização da ECO-92 no Rio de Janeiro aqui no Brasil, um dos primeiros grandes eventos preocupados em discutir as mudanças climáticas no planeta. Naquela oportunidade eu tive a chance de participar deste evento, e me lembro que havia um tripé muito claro e bem definido das ações prejudiciais do homem, que certamente causariam impacto na natureza.
1. A emissão de poluição na atmosfera (a queima de combustiveis fósseis);
2. O descarte de resíduos na natureza;
3. O desmatamento desenfreado (derrubada de vegetação e o aumento das chamadas manchas urbanas).
Trinta anos depois e nada mudou.
Contnuamos ainda com essas ações e em escalas maiores.
É verdade que passamos a falar um pouco mais no aquecimento global e a utilizar outras terminologias que antes não eram adotadas, mas a ação do homem, não se alterou em quase nada. Hoje enfrentamos cada dia que passa. fenomenos metereológicos e catastrofes naturais cada vez mais fortes e intensas. Isso não é novidade e não pode ser surpresa para ninguém.
De modo geral, esses fenômenos climáticos sempre acabam afetando muito mais as pessoas que vivem em situação de maior vulnerabilidade social. Geralmente, justamente estas pessoas, são aquelas que menos contribuíram para criar condições favoráveis para as mudanças climáticas, mas são elas as que mais sofrem com os efeitos das catástrofes. Deve ser a tal da injustiça climática.
Enquanto isso, os periquitos continuam com sua vidinha de sempre. Tudo na mesma normalidade. Ou quase tudo. Nos últimos dois meses, a prefeitura de Curitiba, como de costume, realizou podas de árvores na região do bairro da Água Verde, ali nas imediações da Avenida Getúlio Vargas. Talvez preocupados com possíveis quedas destas mesmas árvores. Mas não sei ao certo e não tenho muita certeza disso.
Na quadra do meu prédio por exemplo, mais do que a simples poda de arvores, a ação da prefeitura foi a retirada total destas árvores. O corte foi completo e devastador. Pelo menos cinco grandes e magníficas árvores foram totalmente fatiadas. Duas delas até entendo a razão, pois se caíssem, poderiam afetar algumas pessoas e até machucar alguém. No entanto, outras três arvores, por mais que eu me esforce, não consigo entender a razão do seu corte e da sua retirada. Era árvores fortes, estáveis e seguras. Algumas destas estavam numa praça em frente a Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Menos sombra no local.
Estas árvores inclusive, eram pontos de parada obrigatória dos periquitos da região.
Isso sem falar de outras vantagens e benefícios que elas traziam para os moradores do bairro.
Talvez o barulho causado pelos periquitos possa ter incomodado alguém e tenha sido uma das motivações do corte destas árvores. Não sei.
Mas se for isso, é uma tremenda ironia, uma vez que os periquitos gritam e fazem algazarra somente quando temos a luz do sol. Ou seja, periquitos fazem barulho somente durante o dia. No entanto, nestes locais onde estas arvores foram retiradas, a tendência agora é que surjam cada vez mais os pássaros do chão. Aqueles pássaros que têm maior mobilidade, que ciscam o solo e voam mais rápido do que os periquitos. Os periquitos em geral buscam preferencialmente sempre os locais mais altos.
Assim, resumido, com a tendencia de que sabiás e as pombas comecem a ocupar mais a região onde antes haviam estas árvores, provavelmente agora, esses pássaros certamente vão fazer mais sujeira e mais barulhos no local, do que os periquitos faziam antes. Os sabiás por exemplo, estão começando a cantar as 3h da madrugada, e cantam cada vez mais alto em função do barulho das cidades. Eles então gostam de cantar quando não tem mais nenhum barulho para que todos possam ouvir. E assim, ultimamente, o canto dos sabiás tem começado no meio da madrugada. Garanto que muita gente vai lembrar dos periquitos no meio da madrugada quando os sabiás começarem a cantar.
Outra questão interessante, é que duas das arvores que foram retiradas estavam localizadas bem na frente de um edifício ao lado do meu. Cada uma destas arvores, devia absorver em média cerca de 240 a 250 litros de água por dia. Ou cerca de 5 a 10 litros de água por hora.
Hoje em dia, com as chuvas torrenciais que tem sido verificada em Curitiba e aumentam mais a cada dia, uma chuva de 50mm por exemplo, tem despejado cerca de 50 litros de água por metro quadrado por hora. E essa água vai ter de ir para algum lugar. Como a maior parte da rua não apresenta áreas de absorção e os bueiros vivem entupidos, e não conseguem na maior parte das vezes vencer a vazão d’água de forma adequada, nessa região, onde temos muitos prédios em volta, e a maioria deles tem garagens subterrâneas, o risco de alagamento e inundações nestas garangens, aumenta cada vez mais, principalmente com a retirada das arvores como estas e com o aumento do volume das chuvas que ano após ano vai bater recordes de volumes.
Além de tudo isso, alguns estudos indicam também que a retirada de cada 10 arvores por quilômetros quadrado, pode fazer a sensação térmica da região, ser afetada e subir em até 0,3 graus celsius.
Mas foram apenas o corte de algumas arvores.
Penso que muitas pessoas aqui do bairro nem sequer perceberam que isso aconteceu.
Talvez quem sabe, na próxima enchente, no próximo deslizamento de terra ou nas próximas secas que irão gerar racionamento de água e a chamada crise hídrica, as pessoas prestem um pouco mais de atenção nisso.
Lembro que há vinte, trinta anos atrás, quando discutíamos o aquecimento global, tentávamos convencer as pessoas que muitas medidas e ações seriam necessárias para evitar as mudanças climáticas. A boa notícia para aqueles que achavam tudo isso uma chatice é que agora não adianta mais. As mudanças climáticas são inevitáveis e já estão acontecendo, por isso, agora só podemos mesmo é discutir medidas e ações para minorar os estragos e o sofrimento que serão causados pelas mudanças climáticas.
Nós ainda teremos muitas cheias, inundações e outros desastres pela frente.
Os periquitos pelo menos, eles podem voar.