Ultima atualização: Dia 12/12/2024
"As coisas pequenas são realmente as grandes coisas da vida."
Por
Marcelo Miguel
A avenida Arthur Bernardes em Curitiba, foi construída no começo dos anos 80, na divisa dos bairros Portão, Santa Quitéria, Vila Izabel, Água Verde e Seminário. Grande parte de seu traçado segue o curso original do Córrego da Vila Izabel, um dos 16 afluentes da bacia do Rio Barigui. Esta região portanto, é uma região de várzea, para onde o excedente das águas correm e corriam durante as grandes chuvas.
Por esta razão, durante a construção desta avenida foi implantado um parque linear com uma extensa área verde capaz de auxiliar na absorção das águas.
A construção de um novo terminal de onibus na Avenida Arthur Bernardes prevê o corte de mais de 200 árvores na região.
Além disso, o grande número de árvore plantadas na região, ajuda não só neste processo de absorção das águas, como também na produção de oxigênio e no controle e na manutenção do clima, trazendo um maior conforto térmico.
No entanto, a Prefeitura de Curitiba, com seu novo projeto de implantação do INTERBAIRROS 2, que já esta em curso em diversas regiões da cidade, está fazendo a previsão de retirada de mais de 200 árvores do parque linear no trecho da Avenida Arthur Bernardes.
Lembramos que cada uma destas árvores retira do solo em um único dia cerca de 200 a 250 litros d’água, o que equivale a dizer que, se este projeto for executado da forma como a prefeitura pretende, no caso de uma eventual chuva um pouco mais forte, aproximadamente entre 45 a 50 mil litros de água permanecerão excedentes numa região de várzea, ou seja, numa região onde já existe a propensão de enchentes e alagamentos.
Por esta razão, desde o começo do ano, um grupo de moradores e entidades locais criaram o movimento SOS ARTHUR BERNARDES, com o intuito de “rever” o projeto original, considerando que segundo alguns dos seus integrantes o projeto carece de um estudo técnico mais apurado e de uma maior participação popular. As poucas reuniões realizadas entre a Prefeitura e os moradores foram marcadas quando o projeto já eastava encaminhado e sem muita divulgação, o que não possibilitou uma maior participação.
Abaixo segue transcrição de entrevistas concedidas pelos integrantes do movimento SOS ARTHUR BERNARDES durante audiencia pública realizada na Camara de Vereadores de Curitiba no último mês de agosto. Os textos foram produzidos pela assessoria de impresa da casa legislativa.
S.O.S. Arthur Bernardes: “Escolha de árvores para corte não teve embasamento técnico”
Laís Leão, arquiteta e urbanista representando o movimento S.O.S. Arthur Bernardes, agradeceu à Câmara por trazer o tema para discussão. “Fomos entregar o abaixo-assinado a alguns vereadores e ouvi de vários que se trata de uma luta perdida, mas não acreditamos que seja, portanto estamos aqui para debater soluções para esse impasse”, disse. Laís destacou que 237 árvores serão cortadas apenas no Lote 1 da Avenida Arthur Bernardes, e outras 70 no Lote 5, totalizando mais de 300 árvores. “E há também outro aspecto não comentado pela Prefeitura, que é a impermeabilização de uma extensa faixa de solo. Depois, não podemos reclamar que a cidade está alagando. Uma tragédia anunciada”, afirmou a arquiteta.
Segundo Laís, é possível criar melhorias para o transporte público em Curitiba sem necessariamente cortar mais de 300 árvores. “Estão nos colocando como inimigos dos ônibus de Curitiba e nos acusam de prejudicar o interesse de mais de 200 mil usuários do transporte público. Isso não é verdade. Não se trata de árvores versus transporte coletivo. A questão é árvores e transporte coletivo versus transporte individual”, afirmou. Laís também disse que a escolha das árvores para corte não se embasou em critérios técnicos. “As supostas árvores que ofereceriam perigo estão, segundo a Prefeitura, no espaço que eles pretendem ampliar. No interior do canteiro, não haveria também árvores passíveis de corte? Isso não faz sentido técnico”, argumentou.
"Não estamos sendo ouvidos, mesmo com a proposição dessa audiência pública"
Verônica Rodrigues, artista e ativista ambiental, reforçou a importância da democracia participativa. “Fico emocionada em ver tantas pessoas aqui. Mas, infelizmente, a Prefeitura não está aqui, o Ministério Público não está aqui, a Defensoria Pública não está aqui e nem o Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo (Gaema). Todos foram convidados”, lamentou Verônica. Ela comentou que encaminhou um ofício ao diretor do Gaema indagando se o projeto na Arthur Bernardes estava devidamente acompanhado pelo Plano Diretor de Curitiba atualizado, pelo Plano de Arborização, pelo Plano da Mata Atlântica, pelo Estudo de Impacto Ambiental e pelo Relatório de Impacto Ambiental, assim como pelos laudos referentes a cada uma das árvores que serão cortadas.
“Nenhum desses documentos foi apresentado de forma clara e objetiva. Não fomos e não estamos sendo ouvidos, mesmo com a proposição dessa audiência pública. Isso é uma ofensa à democracia”, disse Verônica. Para ela, seria mais adequado destinar uma das vias já existentes para os ônibus, e não criar uma nova com o real intuito de garantir o fluxo de carros. “Os desafios climáticos são gigantescos e é imperativo preservar áreas permeáveis dotadas de recursos hídricos para mitigar o aumento da temperatura nas cidades”, defendeu.
Verônica expressou perplexidade ao observar que Curitiba, uma cidade que já foi referência urbanística, não considera o custo ambiental para a realização de obras. “Abordamos respeitosamente o prefeito Rafael Greca nas redes sociais, e a resposta que ele nos deu foi: ‘vire o disco, a licitação já foi aprovada’. E eu digo: vire o disco você, prefeito, que está tentando empurrar goela abaixo da população uma obra sem apresentar os estudos referentes aos impactos ambientais”, finalizou Verônica, que entregou à vereadora Giorgia Prates um abaixo-assinado com 5 mil assinaturas solicitando a interrupção das obras.